Pastoreio #59

ESPIRITUALIDADE (PARTE 2)

Nesse pastoreio seguiremos com o tema espiritualidade, mas agora abordando como demonstração de fé no culto e na vida.
Segundo o Dicionário Teológico (9, p.169,170), o termo espiritualidade vem do latim “spitualitatem”, ou seja, qualidade do que é espiritual. “Predomínio do espírito sobre as tendências pecaminosas da carne. Tal predomínio é obtido pela influência do Espírito Santo na vida do crente.”

A espiritualidade bíblica é a assimilação da vida divina pelo homem que recebe a Cristo, essa espiritualidade nada tem a ver com misticismo que se coloca acima da palavra do Senhor, mas a espiritualidade bíblica tem a palavra de Deus como a única regra de fé e de conduta (9), ou seja, a espiritualidade que procede de Deus tem seu nascedouro em sua palavra.

O misticismo ortodoxo (9.p.170), geralmente concentra sua “ênfase na contemplação; divinização dos sacramentos, e observação exacerbada do calendário religioso.”

Imaginemos se cada pessoa tivesse uma forma de viver e demonstrar a espiritualidade em nome de Deus, sem que tivéssemos a bíblia para conferir, validar ou não tais práticas, como saberíamos o que procede ou não do Senhor?

“A lei é espiritual, (6, p.739) no sentido de que é derivada do Espírito (dada mediante a revelação e a inspiração) e tinha como alvo a efetivação de um encontro frutífero entre o Espírito divino e o espírito humano (Romanos 7.14).”

Considerando a importância desse assunto ressalto que como cristãos precisamos conferir na palavra de Deus o que é ou não bíblico na espiritualidade que cremos e vivenciamos, reforçando que cremos Espírito Santo e em suas obras, mas precisamos ter o entendimento bíblico adequado para não sermos enganados por teorias filosóficas, psicológicas, ou ainda, por ensinamentos oriundos de seitas que nada tem a ver com a palavra e a ação de Deus.

É importante considerarmos que a religião por vezes acaba por misturar o que é bíblico com percepções particulares de um povo e assim adulterando os ensinamentos de Deus. Segundo Macgrath e Packer (14, p. 62), “todos os cristãos concordam que as religiões são uma mistura do que Deus relevou de sua verdade a este ou àquele povo; do que os seres humanos fizeram com essa revelação (para o bem ou para o mal); e do que os espíritos malignos teriam estimulado os devotos a fazer (ou desfazer) com ela.”

A espiritualidade bíblica é oriunda do Pai, do Filho e do Espírito Santo, seus propósitos e formas estão descritos na palavra de Deus, tanto no Antigo Testamento, bem como no Novo Testamento.

Os escritores Coenen e Brown (6, p. 726), reforçam que “em Atos a Igreja é a comunidade na qual Jesus, através do Espírito Santo, opera seus atos poderosos para encher o mundo todo com a mensagem do evangelho. A “Fundação” da Igreja Cristã está ligada ao evento de Pentecostes, podemos considerar um marco inicial da existência da Igreja Cristã. Antes dele não havia a Igreja. Havia discípulos, mas sem a vinda do Espírito eles ainda não formavam a Igreja”, assim, podemos considerar que a espiritualidade da Igreja de Cristo deve ser oriunda do Senhor.

1º Recorte – A ESPIRITUALIDADE COMO DEMONSTRAÇÃO DA NOSSA FÉ NO CULTO

Agora abordaremos a espiritualidade como demonstração de nossa fé no culto, antes, porém, precisamos lembrar que em Atos 2.13-21, alguns comportamentos daqueles que estavam reunidos sendo cheios e impactados pelo Espírito Santo, a principio foram rotulados como bêbados (At.2.13), mas Pedro em seu discurso coloca tudo em seu devido lugar, lembrando os seus ouvintes sobre a promessa de salvação feita por Deus.

“As palavras de Pedro (6, p. 728) indicam claramente que o dom do Espírito é o dom da salvação. Pentecostes foi o cumprimento da profecia de Joel 2.28-32 – o início dos “últimos dias” nos quais, “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (2.21).”

Na vivência litúrgica (2) do culto expressamos de modo visível o que sentimos internamente, seja a gratidão, o amor, os anseios e o desejo de estar reunidos com os santos. Essas expressões aparecem no culto, seja cantando letras que elogiam e que falam da grandeza e do amor de Deus, orando por nós e pelos outros, servindo as pessoas no templo, contribuindo com nossos recursos favorecendo a obra, escutando a palavra de Deus, fazendo leituras bíblicas, dentre outras ações que estabelece relações com o próximo e com Deus.

Dionisio Borobio (2, p.18), escreve que; “ninguém pode viver sem celebrar, assim como ninguém pode celebrar sem viver.” A vida e o culto não podem ser vistas como momentos para mera representação, em um cristão genuíno, não há como separar, precisamos vivenciar o que aprendemos de Cristo, seja no culto ou fora dele – precisamos ter uma vida cúltica – (2, p.18) “A palavra “culto” (do latim cultus, colere: honrar, venerar) expressa a relação do homem com Deus no reconhecimento de sua grandeza, seu poder e seu ministério, com atitude de reverência, adoração ou humilde entrega.”

É preciso entretanto termos o cuidado de não produzirmos cultos como peça teatral, somente no templo, mas na vida, segundo Dionísio Borobio (2, p.18), “a tentação do homem religioso consistiu sempre, como mostra a Escritura, em pretender “contentar” a Deus com ritos e cultos externos sem a incidência na conduta da vida, na existência cotidiana.”

Os cultos e certas comemorações que fazemos no templo para Deus, também em outro tempo no Antigo Testamento eram realizados ao Senhor, as datas festivas estavam presente na vida do povo de Israel. (2, p.20) “O povo de Israel ordenava diversas festas em honra a Javé (Shabbat, Páscoa, festa dos Ázimos, Tabernáculos, Reconciliação). E a comunidade cristã continuou a celebrar festas e solenidades em honra do Deus de Jesus Cristo e em referência fundamental ao mistério de Cristo (Dia do Senhor, Páscoa, Pentecostes, Natal…). A celebração dessas festas centradas no seu aspecto religioso, foi sempre também um momento de descanso, de alegria, de libertação, de comunicação e relacionamentos especiais.”

Além dos cultos, nas festas a comunidade cristã pode planejar, realizar e usufruir juntos, podem com o mesmo pensamento e sentimento prestar sua dedicação, amor e louvor a Deus.

Em nosso segmento Pentecostal o culto tem suas marcas, sua forma, que nos diferencia de igrejas históricas, não no Deus que é adorado ou palavra de Deus que é tida como regra de fé e conduta, mas na forma como procedemos nossas celebrações ao Senhor.

Elienai Cabral escreve que: “o genuíno culto pentecostal desenvolve uma relação dinâmica entre Cristo e sua Igreja por meio da ação livre do Espírito Santo.” (13, p.57)

O modo como realizamos nossos cultos indica segundo alguma crença, costume ou tradição do meio pentecostal, que celebramos de modo diferente ao Senhor, a nossa espiritualidade no culto tem comportamentos que geralmente não são vistos ou percebidos nas igrejas históricas, essas formas geralmente identificam as igrejas pentecostais.

Para Elienai Cabral, em seu livro Movimento Pentecostal: as doutrinas da nossa fé, da Editora CPAD (13, p. 57):

“A distinção do culto pentecostal para o culto tradicional. A diferença está nas atitudes dos líderes dos cultos, no envolvimento congregacional, no propósito, no enfoque do culto, na intensidade dos elementos do culto e até mesmo na duração (tempo) do culto. Essencialmente, os elementos espirituais do culto são os mesmos. A diferença está na ênfase às manifestações do Espírito Santo na vida da Igreja nos cultos realizados. Percebemos, outrossim, os perigos que há na adoção de modismos litúrgicos que, apesar das aparências, sempre acabam por acarretar sérios prejuízos à sã doutrina e aos costumes genuinamente cristãos. Nossa preocupação com a Igreja de Cristo é oferecermos a Deus uma adoração segundo nos prescreve a Bíblia, sem quaisquer misturas estranhas à nossa liturgia.”

No grego a palavra culto é “latreia”, o apóstolo Paulo usou essa palavra com sentido de culto, de serviço, um sacrifício santo e agradável a Deus (Romanos 12.01). A palavra adoração no grego é “proskunein” que significa literalmente beijar, em Lucas 7.38 a mulher pecadora beijou os pés de Jesus em adoração, em Apocalipse 4.10, João viu os 24 anciãos no céu prostrados diante daquele que estava assentado no Trono (13, p. 58).

Tudo que fizermos no culto precisa ter Deus como razão principal, ou seja, adoração deve ser para Ele, o elogiar, orar, cantar, dançar, ofertar e demonstrar nossa reverência, bem como ouvir a palavra do Senhor.

O culto deve ser completo, não é bom que os cristãos escolham partes do culto, mas que ofereçam o culto ao Senhor com inteireza de corpo, alma e espírito. Lamentavelmente alguns crentes gostam de cantar, mas não gostam de ouvir a pregação da palavra de Deus, outros gostam de ouvir a palavra, mas não gostam de cantar ou orar a Deus.

Para uma melhor compreensão sobre como os pentecostais demonstram a sua fé no culto, João Décio Passos (12, p.36), escreve que: “o pentecostalismo vivencia suas origens na lógica estrita do tempo mítico (que é originado num mito), que instaura a eternidade e torna indistinto o ontem do hoje. Ele transforma, permanentemente, a origem em começo, vivenciando hoje a factualidade de Pentecostes. Os cristianismos históricos tratam suas origens na lógica do tempo histórico, que transmite o passado por meio de mediações institucionalizadas. O primeiro (pentecostalismo) prima pela experiência da oralidade e pela gestualidade. O segundo (históricos), pela escrita e pela racionalidade.”

A fé pentecostal e a forma como os fiéis demonstram a sua fé no culto tem como base (12) os textos bíblicos que tratam da ação do Espírito Santo, desde o batismo no Espírito Santo, a manifestação dos dons, orações expulsando demônios e/ou malignidades e orações por curas divinas.

Sobre como se organiza o pentecostalismo, bem como a forma como vivencia a sua fé, segundo João Décio Passos (12, p. 35), relata que, “[…] seu modo de organização baseado no carisma, ou seja, na experiência que os fiéis trazem do Espírito Santo.”

O comportamento dos crentes pentecostais em culto, se da de modo a reproduzirem desde o evento em Atos 2, bem como o modo destemido como pregam o evangelho, como oram por outras pessoas, acreditando que hoje as ações do Espírito Santo são reais, tais como foram no início da igreja primitiva.

A demonstração da fé pentecostal não se permite ser engessada aos ritos ou cultos mais formais, além da crença, a fé pentecostal preza pela liberdade da ação livre do Espírito Santo entre os fiéis, além disso, essa liberdade acabou por dar voz aos “leigos”, aos crentes da base da pirâmide que não compõem, a principio, o corpo clerical, entretanto reivindicam o direito e a forma de prestar seu culto, alegando, uma ação do Espírito Santo sobre os fiéis.

Para João Décio Passos (12. p.33), “a experiência religiosa pentecostal dá-se nessa dinâmica atemporal, em que as narrativas bíblicas tornam-se realidade assim como se encontram escritas no texto. Não há necessidade de mediação explicativas para os textos bíblicos, o que, aliás, dificulta e até impossibilita a experiência direta dos conteúdos narrados.”

Ação do Espírito Santo ou ação meramente humana?

Dentro desse mesmo recorte é importante não só ressaltar que a crença pentecostal é bíblica, quanto a ação do Espírito Santo, suas obras e dotações na vida dos crentes, mas também não podemos deixar de pontuar certas “bizarrices” que se tem notado no meio pentecostal que pode talvez gerar algum tipo de descrédito ao meio.

O escritor Elienai Cabral (13), chama nossa atenção para alguns elementos importantes no culto pentecostal, louvor e adoração somente a Deus, considerando que geralmente a forma de prestar esse culto mais pentecostal ocorre com alegria e movimento, ou seja, percebe-se um comportamento mais dinâmico no culto que está sendo oferecido a Deus. Nos cultos pentecostais as ordenanças, ceia do Senhor e batismo nas águas, são observados, talvez não ocorra em todos os cultos por provavelmente não ter em todos os cultos pessoas para descerem as águas, no caso da ceia em algumas denominações por questões de organização é servida aos fiéis uma vez por mês. A pregação da palavra não pode ser desprezada, ou seja, desde a leitura no início do culto da palavra até a pregação da mesma, os crentes precisam ser reverentes, valorizando prioritariamente não o pregador, mas a explanação da escritura sagrada.

O culto que a Igreja presta está encorado na nova aliança estabelecida em Jesus Cristo, segundo Augustus Nicodemus (15, p.146), “os sacramentos que celebramos no culto, o batismo e a ceia do Senhor, são selos dessa aliança. A palavra que é pregada no culto nos ensina os termos da aliança, mostra qual é a parte que cabe a Deus, o seu amor e a sua fidelidade, e qual a parte que cabe a nós, que é viver em seus caminhos. Nossas orações são feitas com base nas grandes promessas do Deus da aliança. Os louvores que entoamos são os do Deus da aliança, o Deus gracioso. As ofertas que trazemos são expressões da nossa gratidão a esse Deus. Quando temos essa visão aliancista do culto, as várias aberrações idolátricas ficam do lado de fora. O culto passa a ter mais sentido, pois entendemos por que estamos reunidos como povo para louvar a Deus.”

Não podemos em nome do Espírito Santo prestar um culto com comportamentos que vão contra os ensinamentos dos apóstolos, antes de falarmos sobre alguns comportamentos estranhos, uma verdade precisa ser dita e defendida, o Senhor atua de modo sobrenatural na vida da Igreja de Cristo. Não podemos nos tornar céticos, devido a alguns desvios doutrinários praticados por alguns cristãos e denominações, nosso papel precisa ser o de guardadores da sã doutrina e do genuíno mover do Espírito Santo.

Quero ressaltar que o fruto do Espírito (Gl. 5.22,23) é importante e que não invalida a necessidade dos dons espirituais (1 Co,12), (13) pois o fruto tem a ver com o crescimento e o caráter do cristão, tornando-o apto para o exercício dos dons, ou seja, o fruto não anula os dons e vice versa, busquemos com esmero os dons, os ministérios e a mudança de vida (o fruto no Espírito).
Elienai Cabral (13, p. 62), chama a atenção para “alguns movimentos estranhos e irracionais, meramente emocionais, em que as pessoas rodopiam, fazem caretas e gritam em nome do Espírito Santo. Incluem as denominadas, “unção do riso”, do “cai-cai” e outras formas. Entende-se que, a experiência do gozo do Espírito produz grandes emoções e são perfeitamente aceitáveis, desde que não se transforme em doutrina.”

É importante considerarmos que tanto em denominações neopentecostais e em algumas denominações do meio pentecostal, tem sido adotado algumas práticas que acabam por gerar distorções em nossa fé, por exemplo, piscinas no templo para que os fiéis possam mergulhar os “sete mergulhos de Naamã” (2 Rs. 5.14), subir em escadas de madeira colocada no meio do templo, simbolizando a “escada que Jacó viu entre o céu e a terra” (Gn. 28.12), o uso de boneco inflável gigante simbolizando “Golias”, onde os féis são motivados a ofertarem para derrubar o gigante.

A materialização da fé através da venda de objetos religiosos com a promessa de se obter o favor de Deus por aqueles que compram os mesmos, os comportamentos estranhos de alguns cristãos no culto, a confusão entre emoção humana e a ação do Espírito Santo, a mistura profana de princípios bíblicos com princípios seculares, sejam eles do meio filosófico, psicológico, científico, acadêmicos contra Deus, tem gerado prejuízos consideráveis a Igreja de Cristo.

Para Elienai Cabral (13, p.100), “temos sido invadidos por pretensos pregadores que exploram a emoção em detrimento da razão, tornando o evangelho que pregam em mera experiência emotiva. Lamentavelmente, os absolutos da fé tem sido relegados a uma relativização da verdade.”

Como cristãos pentecostais, precisamos examinar tudo e reter o bem (1 Ts. 5.21), tudo o que consideramos ser espiritual, precisa ser provado, o crivo é a palavra de Deus, sejam profecias, sonhos, visões, “unção” disso ou daquilo.

Corroborando com essa forma de pensar, Elienai Cabral (13, p. 101) escreve que, “não existe dom de sonhos e visões. Existem, sim, possibilidades de Deus falar-nos por essas vias, mas os sonhos e visões não possuem autoridade doutrinária. Eles precisam ser provados e atestados com a Palavra de Deus. Sonhos e visões não podem tomar o lugar da revelação única que é a Bíblia. Nenhuma doutrina ou procedimento pode ter a base em sonhos e visões. Igrejas têm sido forjadas por sonhos e visões e estão fadadas ao fracasso, porque a Igreja tem seu fundamento na Palavra de Deus.”

É preciso buscar em Deus e em sua palavra o discernimento das coisas espirituais, as vezes temos empatia com alguém, e pelo fato de irmos com a cara de alguém, as vezes aceitamos tudo que ele ensina ou prega, bem como as vezes acabamos não dando ouvidos, desprezando o que é ensinado ou pregado por aqueles que não temos tanta empatia, ou seja, talvez em alguns casos estejamos ancorados em nossas emoções e sensações, quando deveríamos estar ancorados na bíblia.

Atualmente em nossos cultos realizamos cânticos, coreografias, faz-se leituras bíblicas (salmos ou outros textos), orações por si e pelos outros, peças teatrais, celebrações de datas especificas no templo (dia dos pais, das mães, do pastor, páscoa, natal, dia da Bíblia, virada de ano e etc.), pregação da palavra de Deus, estudos, discipulados, escola bíblica, bem como manifestações dos dons e a atuação dos ministérios.

Quero abordar o falar em línguas que, sem dúvida é um dos sinais marcantes do pentecostalismo, como ICPBB nós não somente cremos, mas também falamos, entretanto, penso que aqui precisamos fazer uma correção sobre aonde fazemos. Em 1 Coríntios 14.26-40, lemos a instrução dada pelo apóstolo Paulo a Igreja que estava em a cidade de Corinto, ao que parece os irmãos em Cristo quando se reuniam estavam tendo certa dificuldade quanto a ordem no culto, quanto ao que fazer quando fazer e o que não fazer.

No versículo 27 de 1 Coríntios 14, o apóstolo escreve que “no caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e que haja intérprete.”

Com base no texto bíblico acima, nós não estamos proibidos de falar em línguas, pelo contrário, em 1 Co.14.39, deixa claro “não proibais o falar em outras línguas”, entretanto o apóstolo deixa claro que o falar em línguas de modo audível a todos no culto, somente deveria ocorrer se tivesse alguém com o dom de interpretação de línguas, pois assim todos poderiam compreender e serem edificados, do contrário, somente são edificados os que falam em línguas.

Vale destacar o que está registrado em 1 Co. 14.28 “mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.” O pastor Luciano Subirá (16, p.148), escreve, “utilizo muito esta estratégia ao orar em línguas; posso estar em qualquer lugar público e ninguém sequer verá meus lábios mexerem, pois interiormente estarei falando comigo mesmo e com Deus. Há uma edificação discreta e silenciosa que pode ser praticada em todo tempo e lugar!”
Em 1 Coríntios 14.23-25, o falar em línguas aos ouvidos dos indoutos e incrédulos, soará como loucura, entretanto a fala audível, se todos profetizarem (v.24) o incrédulo é convencido, sendo manifestos os segredos do coração, convencido então se prostrará e confessara ao Senhor.

Outro ponto que quero chamar a sua atenção, quando o preletor está pregando a palavra de Deus, não é bíblico que se interrompa para que se entregue profecias, ou que se tenha manifestações quaisquer que sejam, 1 Co. 14.40 “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” Esse versículo ratifica o v. 33 “porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos.”

Sendo assim, uma demonstração de espiritualidade no culto que não se submeta a palavra de Deus, pode ser tudo, menos espiritual, pois a palavra de Deus é a Única fonte que deve ser considerada como nascedouro e controle de toda espiritualidade que emana do Senhor.

O comentarista da NVI, F.F. Bruce (17, p. 1314), escreve sobre o versículo 40 que “tudo no seu lugar e sequência adequados”, expressando a precisão com que avança um exército bem organizado.”

Ponto de Contato >>>

COMO DEMONSTRAMOS A NOSSA FÉ NO CULTO?

Argumentação >

Ao analisar a nossa forma de crer não nos torna um “herege”, pelo contrário revela o zelo que temos em sermos obedientes a Deus, em não agirmos como meninos levados por ensinamentos que tenham respaldo na bíblia.

Um dos objetivos desse pastoreio é causar uma reflexão sobre o que vemos ou até mesmo fazemos e que capitalizamos como espiritualidade, o pastoreio 58 abordou a espiritualidade como “mudança de comportamento” e a espiritualidade como manifestação do poder de Deus”, nesse pastoreio 59, a proposta de reflexão e discussão é pensarmos sobre a espiritualidade como “demonstração de fé no culto”, com esses três tópicos pretende-se gerar em nossa membresia a reflexão e os devidos ajustes que se façam necessários quanto a forma de crer e vivenciar a nossa fé.

As vezes ouço que a nossa denominação não é mais pentecostal, óbvio que não procede tais falas, entretanto percebo que algumas práticas ao longo dos anos tem sido deixadas, em nossa denominação e em outras denominações pentecostais. Acreditamos no Espírito Santo, nos dons para hoje, mas não podemos aceitar entendimentos sobre espiritualidade que desprezem a palavra de Deus como ponto de partida e aferidora da fé cristã.

Penso que toda e qualquer manifestação no culto que se diga vir do Espírito Santo, precisa ser conferida na bíblia, alguns exageros vistos no meio pentecostal enfrentam dificuldades de serem compreendidas e aceitas até mesmo pelos próprios pentecostais.

Não poderia finalizar essa escrita do ponto de contato sem chamar a atenção dos meus iguais em Cristo para o uso desnecessário e sem base bíblica para a Igreja de Jesus, do shofar, do tallit, de réplicas da arca da aliança, de quipá, ou ainda, umbrais de portas para o povo passar debaixo, sal grosso como elemento de purificação, mezuzá ou outros apetrechos que alguns julgam ser necessários para apoio da fé cristã.

A nossa denominação não orienta e não compactua com uso desses objetos como “muletas” da fé, tampouco comungamos com comportamentos estranhos atribuídos ao Espírito Santo como abordamos nesse pastoreio.

Temos Jesus Cristo, temos a palavra, temos Deus e o Espírito Santo, estamos satisfeitos, não precisamos de nada mais, somos uma Igreja saudável, somos de Cristo e pentecostais, pois cremos na pessoa do Espírito Santo, nos dons e nos ministérios dados pelo Senhor.

Para se pensar…

Penso que uma releitura bíblica nos ajudará a corrigir o que for necessário ser corrigido, que não pecamos em sermos cuidadosos quanto as demonstrações de fé bíblica pentecostal, pelo contrário acredito piamente que a observação da palavra de Deus nos levará a ser uma Igreja mais bíblica, relevante e cheia do Espírito Santo.

Como Igreja Pentecostal da Bíblia, precisamos fazer jus ao nome, valorizando o conhecimento bíblico adequado, sendo úteis as pessoas como discípulos de Jesus, vivenciando os milagres e sendo instrumentos de Deus para a vida de outros.

A que temos reduzido a nossa espiritualidade, estamos satisfeitos com a nossa participação no Reino de Deus? Somos genuínos seguidores de Jesus Cristo? A nossa demonstração de fé nos cultos passa pelo crivo da palavra de Deus?

 

2019 – O Ano da Consolidação
de uma igreja bíblica e relevante

Pastor Ronildo Queiroz
Serviçal da Igreja de Jesus Cristo

 

 

Referências

1. Bíblia Shedd, Almeida Revista e Atualizada, Editora Vida Nova.
2. Celebrar para Viver: liturgia e sacramentos da Igreja. Dionísio Borobio, Edições Loyola.
3. Enciclopédia Barsa Universal, vol. 7, Editora Barsa Planeta.
4. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, vol. 2, D-G, R.N. Champlin, J.M. Bentes, Editora Candeia.
5. Dicionário Bíblico Wycliffe, 7ª impressão. Charles F. Pfeiffer, Howard F. Vos, John Rea. Ed. CPAD.
6. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Lothar Coenen, Colin Brown, Editora Vida Nova.
7. Dicionário Bíblico, John L. McKenzie, Editora Paulus.
8. Dicionário Teológico do Novo Testamento, Daniel G. Reid, Editora Vida Nova, Edições Loyola.
9. Dicionário Teológico: nova edição revista e ampliada – suplemento biográfico dos grandes teólogos e pensadores. Claudionor Corrêa de Andrade. CPAD.
10. ALENCAR, Gedeon Freire. Assembleias de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial, 2010.
11. ARAUJO, Isael de. Dicionário do movimento pentecostal. Rio de Janeiro, CPAD, 2007.
12. Pentecostais Origens e começo, João Décio Passos, Editora Paulinas, 2005.
13. Movimento Pentecostal: as doutrinas da nossa fé, Elienai Cabral, Ed. CPAD.
14. Fundamentos do Cristianismo: um manual da fé cristã. Alister McGrath e J.I. Packer. Vida Nova.
15. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a Igreja de hoje. Augustus Nicodemus Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2012.
16. O falar em línguas: a linguagem sobrenatural de oração. Luciano Subirá, Orvalho.com, 2ª edição, 2004.
17. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento, F.F. Bruce, Ed. Vida