Pastoreio #60

CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO

Como sequência da temática espiritualidade, seguiremos falando sobre o ser cheio do Espírito Santo, ser cheio significa estar tomado, habitado pelo Espírito, em Atos 2.01-04, Lucas escreve que a partir daquele momento os crentes que estavam reunidos conforme a orientação de Jesus, foram cheios, receberam um hóspede, que passaria a estar nos crentes e não mais somente se apossar para a realização de feitos extraordinários.

Em Atos 2.02-03 – o autor escreve relata sinais, “um som como de vento impetuoso” e “repartidas entre eles, “línguas como de fogo”, estes sinais indicaram a presença da Pessoa do Espírito Santo, que não só manifestou o seu poder, mas também passou a habitar nos presentes.

Marshall escreve (5, p.69) que, “com estes sinais externos, veio o Espírito Santo como realidade interna e invisível que demonstrou a Sua presença mediante os efeitos sobre os discípulos.

F.F. Bruce (4, p.1212) comenta que: “o vento como símbolo do Espírito era conhecido com base na profecia de Ezequiel 37.09-14, e foi usado pelo Senhor (João 3.08). O fogo representa a expressão da energia divina.”

Segundo Hernandes Dias Lopes (6, p.51), “o derramamento do Espírito Santo foi um fenômeno celestial. Foi definitivo, ele veio para ficar para sempre com a igreja. Aquilo que aqui se denomina ficar cheio, também é chamado de batismo (Atos 1.05 / 11.16), derramamento (Atos 2.17,18 / 10.45) e recebimento (Atos 10.47). William MacDonald diz que a vinda do Espírito envolveu um som para ouvir, um cenário para ver e um milagre para experimentar.”

O Dr. Russel Shedd comenta (1, p.1528) que: “ nesse momento a igreja passou pelo batismo do Espírito, agora a presença e atuação do Espírito é dentro do crente, sua presença no cristão é continua e não esporádica, o Espírito habitou em toda a igreja, antes somente certos indivíduos eram usados pelo Espírito, mas agora em Atos 2, todos que creem em Jesus passam a ser habitação do Espírito Santo, recebendo Dele poder para a propagação do evangelho.”

O escritor Lucas (5, p. 69) usa a expressão ficaram cheios para descrever a experiência, “esta palavra se e emprega quando as pessoa recebem o revestimento inicial do Espírito Santo para capacitá-las para o serviço de Deus (Atos 9.17 / Lucas 1.15), e também quando ficam inspiradas para fazerem declarações importantes ( Atos 4.08, 31 / 13.09); palavras afins se empregam para descrever o processo contínuo de ser cheio com o Espírito (Atos 13.52 / Efésios 5.18) ou o estado correspondente de estar cheio ( Atos 6.03,05 / 7.55 , 11.24 / Lucas 4.01). Estas referências indicam que se uma pessoa já está cheia do Espírito, pode receber um novo revestimento para uma tarefa específica, ou um enchimento contínuo. É importante observar, também, que aquilo que aqui se chama de “ficar cheio”, também é chamado de “batismo” (Atos 1.05, 11.16), um “derramamento “ (Atos 2.17-18 / 10.45), e um “recebimento” (Atos 10.47).

“O ato básico de receber o Espírito pode ser descrito como ser “batizado” ou “cheio”, mas o verbo “batizar” não se emprega para experiências subsequentes (5, p.69).”

É válido ressaltar que de modo geral, no segmento pentecostal se acredita que o batismo com o Espírito Santo é algo que ocorre subsequente ao crer em Jesus, ou seja, quando os crentes falam em línguas.

Como comenta F.F. Bruce (4, p. 1212) “o batismo com o Espírito é assim um evento “de uma vez por todas” com resultados contínuos, e os seus benefícios são estendidos aos gentios crentes em Cesareia (Atos 10.44-48 / 1 Coríntios 12.13).”

A descida do Espírito Santo descrita em Atos 2, dá aos discípulos o que até aquele momento eles não tinham, o Espírito Santo habitando neles, afinal de contas foi o próprio Jesus certo tempo antes da sua partida quem disse que rogaria ao Pai que o Enviasse (João 14.16,17), a partir do momento em que o Espírito habitou neles também passou a dar-lhes capacidades sobrenaturais que eles não tinham (1 Coríntios 12).

1º Recorte – O QUE É SER CHEIO DO ESPÍRITO SANTO?

Seguindo nosso empenho em entender a narrativa sobre ser cheio do Espírito, vale a pena ressaltar o comentário de William MacDonald sobre Atos 2.03, pois o mesmo nos chama a atenção para a distinção entre o batismo do Espírito e o batismo de fogo. Segundo MacDonald (7, p.335), “são dois acontecimentos distintos, o batismo do Espírito é um batismo de benção e o batismo de fogo fala de julgamento. O primeiro (batismo do Espírito) diz respeito aos cristãos; o segundo (batismo de fogo) aos incrédulos. O primeiro encheu os cristãos do Espírito e de poder e formou a igreja. O segundo destruirá os incrédulos.

João Batista ao se dirigir a “um grupo misto constituído de arrependidos e impenitentes (Mateus 3.06-7), afirmou que Cristo o batizaria com o Espírito Santo e com fogo (Mateus 3.11).”

Ressaltado isso, vamos nos ater ao ser cheio do Espírito, ter a presença do Espírito Santo em nós através da fé em Jesus Cristo, após o dia de Pentecostes o Espírito habita em todos que confessam e creem em Jesus, o Espírito convence e guia.

1 Coríntios 12
02. Vocês sabem que, quando ainda eram pagãos, foram conduzidos pelo caminho errado e levados a adorar ídolos mudos. 03. Por isso, quero que compreendam que ninguém que fala pelo Espírito de Deus amaldiçoa Jesus, e ninguém pode dizer que Jesus é Senhor a não ser pelo Espírito Santo.

Precisamos ter o cuidado para não nos deixar levar por movimentos estranhos compreendidos como ações do Espírito Santo, mas que não estão em harmonia com a bíblia, ou ainda, que acaba por colocar alguém ou outra coisa no lugar de honra que pertence somente a Deus.

Sobre alguns movimentos estranhos, Elienai Cabral (3, p.124) escreve que: “visto que a ênfase pentecostal está na ação livre do Espírito Santo na Igreja, não cabem ações místicas misteriosas, uma vez que a base de toda a manifestação espiritual está explícita na Bíblia.”

Ser cheio do Espírito fala de completude vivencial da fé, os crentes em Jesus deveriam não somente ter alegria no Senhor, mas também crer no poder de Deus, bem como ter uma vida de testemunho aonde Cristo fosse visto neles.

Segundo Hernandes Dias Lopes (6, p.65), “a igreja de Jerusalém conjugava doutrina e vida, credo e conduta, palavra e poder, qualidade e quantidade. Hoje vemos igrejas que revelam grandes desequilíbrios. As igrejas que zelam pela doutrina não celebram com entusiasmo. As igrejas ativas na ação social desprezam a oração, aquelas que mais crescem em número mercadejam a verdade. Ao contrário disso, a igreja de Jerusalém era unificada (2.44), exaltada (2.47 a) e multiplicada (2.47 b).

Segundo Elienai Cabral (3, p.32), ser cheio é “na linguagem bíblica figurada, infusão implica em derramar dentro. É o derramamento interior, caracterizado pela entrada do Espírito Santo para dentro do nosso espírito.”

O Espírito veio sobre os discípulos para ficar e morar dentro deles, (3, p.32) “quando o Espírito penetra na parte mais recôndita do nosso ser, o nosso interior se enche da presença e do gozo da salvação.”

“(3, p.31) O Espírito Santo, ao descer no Dia de Pentecostes, veio para ficar e habitar na vida íntima dos seguidores de Cristo. A promessa de Cristo era de que Ele viria para ficar conosco para sempre (João 14.16,17).”

Ser cheio do Espírito Santo nos leva a ser comprometido com a palavra de Deus (Atos 2.42), a igreja nasce comprometida com os ensinamentos de Jesus, a doutrina ensinada pelos apóstolos é sem dúvida a doutrina abraçada pela igreja.

“Justo Gonzalez destaca que o perseverar no ensino dos apóstolos não quer só dizer que o povo não se desviou das doutrinas apostólicas ou permaneceu ortodoxo. Quer dizer também que eles perseveraram na prática de aprender com os apóstolos – que eram alunos, ou discípulos, ávidos por conhecimento sob o comando dos mestres (6, p.66).”

Quem é cheio do Espírito Santo (6), a exemplo da igreja em Jerusalém, é perseverante na oração (Atos 2.42), todos perseveravam na oração (Atos 1.14), os líderes oravam (Atos 3.01), a igreja sob perseguição ora e o lugar treme, os lideres entendiam que a prioridade era a oração (Atos 6.04), as missões são possibilitadas por Deus através da oração (Atos 13.01-03), o apóstolo Paulo ora pelos enfermos da ilha de Malta e os cura (Atos 28.08-09).

A igreja cheia do Espírito (6, p.67) mantém-se em comunhão (Atos 2.42,44-46), em uma igreja cheia do Espírito os irmãos se amam profundamente, em Jerusalém os crentes gostavam de ficar juntos (Atos 2.44), eles partilhavam dos seus bens com os necessitados (Atos 2.45), a benção do Senhor vem sobre os que convivem em união (Salmos 133).

Uma igreja cheia do Espírito sempre louva a Deus e atraem outras pessoas (Atos 2.47), segundo Hernandes Dias Lopes (6, p.68), “uma igreja viva tem um louvor fervoroso, contagiante, restaurador, sincero, verdadeiro. O louvor que agrada a Deus tem origem no próprio Deus, tem como propósito exaltá-lo e tem como resultado quebrantamento dos corações.”

Segundo comenta Hernandes Dias Lopes (6, p.68), a igreja cheia do Espírito teme a Deus e vivencia os seus milagres (Atos 2.43), essa igreja tem reverência pelo Senhor, compreende a santidade de Deus, a manifestação extraordinária de Deus estava presente, o paralitico é curado (Atos 3), o lugar onde a igreja ora, treme (Atos 4.31), muitos sinais e prodígios era efetuados (Atos 5.12,15), Felipe realiza sinais em Samaria (Atos 8.06), a conversão de Saulo é seguida da sua cura (Atos 9), Pedro é libertado pelo anjo do Senhor (Atos 12).”

Uma igreja cheia do Espírito é simpática e amável, é sal e luz, cresce no poder de Deus e na quantidade de pessoas alcançadas para Cristo, o padrão de comportamento da igreja cheia do Espírito é de cidadãos cumpridores dos seus deveres, de bons maridos, boas esposas, bons filhos e bons pais. Se nós os cristãos nos empenharmos em viver o evangelho, certamente Cristo será visto em nós e o Deus acrescentará a igreja mais pessoas rendidas e Jesus.

Os apóstolos orientaram que fossem escolhidos sete homens respeitados, cheios do Espírito e de sabedoria, para serem encarregados do serviço (Atos 6.03), ajudar as viúvas (Atos 6.01), que segundo Marshall (5, p.123), “vinham da Dispersão para terminar seus dias em Jerusalém. Não poderiam trabalhar para se sustentar, e se esgotaram o seu capital, ou o doaram, poderiam estar grandemente necessitadas.”

William MacDonald (7, p.352), comenta que: “No início da Igreja, era costume distribuir alimentos diariamente as viúvas pobres da congregação que não tinham outro meio de se sustentar. Alguns dos judeus de fala grega se queixaram porque as viúvas deles não estavam sendo tratadas da mesma forma que as viúvas dos hebreus (os judeus de Jerusalém e da Judéia).”

(7) Os diáconos, ou seja, aqueles que deveriam servir às mesas, deveriam ser homens de boa reputação, ou seja, respeitáveis, ser cheios do Espírito, ser espirituais, e serem cheios de sabedoria na prática da vida.

Os homens escolhidos para essa tarefa deviam ter sabedoria inspirada pelo Espírito, ou seja, homens cujo seus comportamentos e conselhos eram pautados de acordo com a instrução de Jesus, da doutrina ensinada pelos apóstolos.

O comentarista F.F. Bruce escreve que (4, p.1217), “Estevão é especialmente marcado como um homem cheio de fé e do Espírito Santo (v.5), e os procedimentos sábios e práticos foram acompanhados de oração (v.6).”

“Estevão era um homem cheio do Espírito, de sabedoria, de graça e do poder de Deus, sendo capacitado por Deus para realizar milagres entre o povo (v.3,5,8). Como alguém de fala grega, encontrou a sua esfera de atuação e testemunho nas sinagogas de fala grega, com menção especial da sinagoga dos libertinos. (4, p.1218)”

Ter uma vida ou ser cheio do Espírito, traz de modo prático resultados visíveis, seja na sabedoria em lidar com situações, assuntos e pessoas, seja na realização de milagres, na oração e no serviço em prol da igreja de Cristo.

Penso que uma pessoa cheia do Espírito auxilia o outro seja evangelizando, orando, ajudando em suas questões materiais quando lhe é possível fazer, ensinando, aconselhando, tendo intimidade com o Senhor não somente no culto, mas na vida.

Uma pessoa cheia do Espírito tem um serviço a prestar em favor do próximo, com o ocorrido em Atos 2, os discípulos foram cheios do Espírito Santo, para pregarem o evangelho a todas as pessoas, para receberem os dons com intuito de melhor servirem, para em nome de Jesus realizarem milagres, para manifestarem o amor de Deus a todos, para ensinarem a igreja auxiliando-a de modo que todos possam servir com excelência e prescrição bíblica.

Em minha mente não faz sentido cristãos dizerem que estão cheios do Espírito Santo, mas não servirem aos outros, seja ensinando, pregando, aconselhando, orando, visitando, auxiliando nas necessidades materiais básicas uns dos outros, amando, perdoando, suportando, evangelizando, contribuindo com a obra para que outros sejam alcançados pelo evangelho , bem como ajudando as pessoas em suas questões sociais.

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PARA QUE SER CHEIO DO ESPÍRITO SANTO?

Argumentação >

Se a nossa compreensão sobre ser cheio do Espírito Santo se resumir apenas a experimentarmos sensações em nossos corpos, precisamos aumentar nosso campo de reflexão na palavra do Senhor, pois biblicamente os cheios do Espírito estão de um modo ou de outro servindo a Deus e ao próximo.

Nossas vidas rendidas a Cristo devem refletir o poder, o amor e o comportamento que o Mestre Jesus nos ensina em sua palavra. Homens e mulheres cheios do Espírito marcaram suas épocas, em amor, em manifestação do poder de Deus, na pregação do evangelho, seja pregando em uma casa, em um templo, em estádios, nos campos, nas escolas ou faculdades, nas indústrias e nos comércios, ou seja, os crentes cheios do Espírito propagam o reino de Deus por onde passam.

Procurando responder a pergunta para que ser cheio do Espírito Santo, penso que é Ele que nos motiva, nos move, nos capacita, nos revela, orienta e faz através de homens e mulheres, crentes em Jesus, a obra que o próprio Mestre disse que Ele faria (João 15.26), testificando de Cristo, nos ajudando em nossas fraquezas (Romanos 8.26), pois somente assim, com a presença em nós do Espírito Santo, conseguiremos dar os frutos que o Senhor espera de cada um de nós.

Com base na palavra de Deus compreendo que quando temos o Espírito Santo, indica que estamos livres da lei, do pecado e da morte, pois ao crermos em Jesus, escolhemos o que não éramos dignos de receber, a graça, o favor não merecido aos homens, entretanto feito por Deus (João 3.16).

Para se pensar…

Quando cremos em Jesus recebemos o Espírito Santo, quando Ele está habitando em nós uma grande reforma moral e ética se inicia, passamos a dar passos com a ajuda do Espírito em direção a um novo patamar, uma nova vida em Cristo Jesus.

Tendo o Espírito Santo como hóspede em nossas vidas, passamos a ter outro olhar de mundo, da vida, passamos a fazer o que antes não faríamos, desde as boas obras, do fazer o bem ao próximo, bem como a ser usado nas manifestações sobrenaturais de Deus.

Os homens e mulheres cheios do Espírito produziram e devem produzir em todo tempo frutos que glorifiquem a Deus, ser cheios do Espírito não tem como objetivo gerar fama para si mesmos ou alimentar vaidades, mas tem como objetivo a evangelização, seja através da pregação, do ensino, do discipulado, dos cânticos, do testemunho de vida e das manifestações do poder sobrenatural de Deus.

 

2019 – O Ano da Consolidação
de uma igreja bíblica e relevante

Pastor Ronildo Queiroz
Serviçal da Igreja de Jesus Cristo

 

 

Referências

1. Bíblia Shedd, Almeida Revista e Atualizada, Editora Vida Nova.
2. Celebrar para Viver: liturgia e sacramentos da Igreja. Dionísio Borobio, Edições Loyola.
3. Movimento Pentecostal: as doutrinas da nossa fé, Elienai Cabral, Ed. CPAD.
4. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento, F.F. Bruce, Ed. Vida.
5. Atos: introdução e comentário. – Série cultura bíblica – I. Howard Marshall, Editora Vida Nova.
6. Atos: a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Hernandes Dias Lopes, Editora Hagnos.
7. Comentário Bíblico Popular: versículo a versículo – Novo Testamento – William MacDonald, Editora Mundo Cristão.