Pastoreio #86

Decidindo Caminhar Juntos

 

Acredito que esse assunto, em específico para nossa denominação, é de suma importância, com esmero tentarei nessa escrita comunicar, orientar e inspirar toda a nossa liderança e membresia para que, possamos olhar com mais amor e dedicação para a nossa casa e menos para a “casa” do vizinho.

Logo no início, já quero deixar bem claro que temos a compreensão que o Reino de Deus está muito acima de uma Instituição/Denominação, e que, a Igreja de Cristo são as pessoas e não os templos ou organizações. Penso, entretanto, que o papel das denominações deveria ser o de organizar, instruir e avançar com o povo que faz parte desse Reino, evangelizando mais pessoas para Jesus, discipulando as mesmas, reunindo recursos financeiros e direcionando para manter a administração, os obreiros(as) que se dedicam a obra de Deus, bem como ajudando os mais necessitados.

Acredito que o papel de uma denominação seja, de modo bem simplista e basicamente, o de reunir as pessoas, organizando-as para servir tanto a própria Igreja e alcançar os que ainda não são Igreja de Jesus. É importante ressaltar também que, o nome ou placa da denominação, comunica mais do que um nome, comunica em que creem, como creem e podem ou não favorecer o nome de Jesus Cristo.

Ainda bem que Jesus é maior que toda liderança cristã, instituição ou denominação, graças a Deus por isso, pois assim, o seu Reino permanece imaculado e na essência do plano do Criador. Infelizmente muitas denominações, ao que parece, acabaram se perdendo ao longo dos anos e hoje, infelizmente podemos dizer sobre algumas delas que, já não contribuem com o Reino de Deus, antes, porém, servem aos interesses de seus líderes ou donos.

A boa notícia é que também existem denominações que contribuem de modo positivo com o Reino de Deus, que não envergonham o nome de Jesus e que sim, são organizadoras do povo de Cristo para a realização da missão do Reino.

Segundo Stott (2013, p.18), “cremos que a igreja possui dupla identidade. Por um lado, somos chamados para fora do mundo, para pertencermos a Deus, e por outro, somos enviados de volta para o mundo para testemunhar e servir. Além disso, a missão da igreja segue o modelo da missão de Cristo.”

Ser Igreja no Reino de Deus é muito mais que fazer parte de uma denominação, ou ainda, ser membro desse ou daquele líder religioso, segundo Seymor (2012, p. 137).

Devemos reconhecer que o templo é apenas um lugar onde o povo de Cristo se reúne para cultuar. O templo não é a Igreja. A Igreja está implantada em nosso coração pelo sangue de Jesus Cristo, pois Ele disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt. 16.18). Em cada assembléia, a primeira coisa a ser verificada é se Ele, o Espírito Santo, está empossado como Presidente. A razão de termos hoje tantas missões e igrejas ressequidas é que elas não tem o Espírito Santo na presidência, mas um homem em seu lugar. Não que seja errado haver um homem na direção, mas tal indivíduo deve estar cheio do poder do Espírito. Porque não é o homem quem faz a obra, e sim o Espírito Santo enviado por Jesus para trabalhar este tabernáculo de barro. Jesus Cristo é o Supremo Pastor dessas assembléias, e deve ser reconhecido legalmente. Quando os membros do seu corpo pecam, o Espírito Santo, o Presidente, os convence. Os membros não têm de perguntar ao pastor ou pregador se estão errados, pois sentirão na alma a convicção de que a glória os deixou, bem como a alegria, a paz, o descanso e o conforto. Todavia, se sentem a falta dessas coisas em suas almas e confessa, os seus pecados, Deus Espírito Santo os aceitará de volta.

Acreditando que já estamos bem esclarecidos sobre o que é denominação, organização jurídica devidamente registrada nos órgãos governamentais com direitos e deveres junto aos governos federais, estaduais e municipais cuja atividade deve ser de ordem filantrópica, no nosso caso identificado como igreja de Cristo, devemos ser fiéis aos princípios e ordenanças da palavra de Deus. Em resumo, a denominação precisa ser a igreja que acolhe as Igrejas (pessoas) que permanecem em Cristo de modo a anunciar o evangelho e honrar ao Deus Criador de todas as coisas. Enquanto a Igreja, pessoas, são todos que primeiramente creem, confiam, aceitam, são batizados e se submetem a palavra de Deus, tendo-a como suficiente manual prático de regra, fé e conduta.

Com esse entendimento muito claro e bem delimitado, podemos então, refletir sobre a importância de se caminhar denominacional juntos em uma mesma direção, ou seja, acatando os métodos e processos orientados na denominação da qual fazemos parte, buscando se obter um resultado em comum, alcançar os objetivos planejados pela liderança, objetivos esses que visem contribuir com a expansão do reino de Deus.

Outro aspecto que julgo importante abordar é que, formas e meios são passiveis de mudanças, entretanto a palavra de Deus nunca mudou e não mudará, as doutrinas de Jesus para a sua Igreja nunca podem perder o sentido e o valor.

As mudanças em nossa denominação podem até ter gerado em alguns irmãos e irmãs de fé certa dificuldade para absorverem, mas isso também é compreensível, afinal de contas, geralmente as mudanças podem causar algum tipo de desconforto, talvez por usos e costumes mais sedimentados, por hábitos e tradições que ao longo de certo tempo foram reforçados, mantidos e que provavelmente algumas pessoas não estejam tão dispostas a abrir mão.

Considerando todas essas questões acima, nenhuma delas, desde que não firam os princípios bíblicos, podem ser motivo para uma resistência consciente ao que é orientado pela liderança denominacional, pois se assim fizermos, certamente lutaremos contra a própria casa sem considerar que estamos no mesmo “barco”, e que se ter uma visão mais egoísta poderá trazer prejuízos não somente ao grupo, mas também a si próprio.

A igreja de Deus é liderada por homens ou mulheres, falhos(as), entretanto dependentes do Eterno que com a sua misericórdia e poder perdoa, restaura e usa-os para a glória do seu nome, Deus é quem estabelece não somente a sua igreja, mas também os seus obreiros e ministros.

Segundo Patrick (2013, p. 235,236), “a igreja local é uma comunidade de cristãos regenerados que confessam Jesus como Senhor. Em obediência às Escrituras, eles se constituem sob uma liderança qualificada, reúnem-se regularmente para a pregação e a adoração, observam os sacramentos bíblicos do batismo e da comunhão, são unificados pelo Espírito Santo e disciplinados para a santidade e se espalham para cumprir o Grande Mandamento e a Grande Comissão com missionários ao mundo – para a glória de Deus e a alegria deles.”

Independentemente da denominação, da placa institucional, precisamos considerar que na liderança de cada instituição temos pessoas, pessoas com as suas personalidades que invariavelmente acabam de alguma forma influenciando, interferindo ou imprimindo na liderança gostos e formas pessoais.

Quando esses gostos e formas não colidem com as ordenanças bíblicas, geralmente não trazem nenhum tipo de prejuízo a vida cristã, entretanto, quando essas pessoas não conseguem equilibrar adequadamente o seu ego, suas motivações pessoais e divorciadas da vontade de Deus, geralmente acabam sendo fontes geradoras de divisões e dificuldades na denominação.

Recorte >>> Quais são as possíveis barreiras contra a unidade denominacional?

Penso que a nossa história de vida, nossos hábitos e cultura, influenciam de sobremaneira em nossa forma de se relacionar, consequentemente nas nossas ações, seja junto a liderança ou com os nossos pares na igreja local podem acabar sendo construídas de uma forma inadequada, ou seja, carregadas das nossas carências e frustrações que podemos sem perceber causando lutas e divisões.

O nosso ego é uma dessas barreiras que, por não darmos o “braço a torcer”, podemos resistir uns aos outros, podendo gerar grandes brigas e separações, por não termos a humildade de escutar, procurando ser empáticos com o próximo. Compreender o outro, tentando se colocar no lugar do outro, para então, poder ter um comportamento mais assertivo.

A falta da palavra de Deus, como crentes precisamos balizar nossas relações conforme a bíblia nos orienta, se queremos ter sucesso sobre o que fazer e como fazer, precisamos ser conhecedores e praticantes dos princípios bíblicos.

Quando nos achamos injustiçados, ainda que de fato tenhamos sido, precisamos manter uma postura que é bíblica, pagar sempre o mal com o bem (Salmos 34.14 / Pv.17.13), mesmo quando achamos ter razões para nos defender como queremos precisamos ter o equilíbrio para termos comportamentos, que sejam aprovados perante Deus.

Às vezes temos até razão sobre algo, mas como nos comportamos pode fazer com que percamos a razão, em se tratando da obra de Deus, acredito que a melhor escolha seja sempre o caminho da oração, apresentando as nossas queixas ao Senhor e pedindo a Ele sabedoria para lidar com as situações.

Em alguns casos os planos e desejos sem ter neles, Deus como alicerce, podem levar as pessoas a tomarem decisões e iniciarem projetos que muitas vezes o Senhor não nos mandou fazer, tampouco os aprovou (Provérbios 16.01), talvez sejam projetos pessoais e egoístas que levam alguns, a não se submeterem a liderança alguma, ou ainda, a iniciarem projetos solos sem uma orientação do Senhor.

Quando falamos de amor e trabalho pelo reino de Deus, sem, entretanto, conseguir caminhar juntos em uma Instituição ou Denominação, penso que talvez, em alguns casos, o reino de Deus pode estar sendo usado como uma desculpa para não se submeterem a uma liderança denominacional.

Talvez a necessidade individualizada de cada um de nós apareça em nossas ações, por mais que tentamos disfarçá-las, mas podem ser vistas quando obedecendo ou seguimos as orientações de modo parcial, uma espécie de meia obediência, o que, na verdade, a meu ver, revela o quanto ainda não conseguimos fazer em prol do reino de Deus, considerando que no reino de Deus o que fazemos ou somos não evoca para si méritos ou reconhecimentos pessoais.

Acredito que precisamos ter o que está escrito em Atos 4.32 “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam […], não significa que não tinham opiniões diferentes, mas que se sujeitavam e colaboravam uns com os outros pela fé e amor que possuíam em Jesus Cristo.

Quando brigamos mais pelas nossas ideias pessoais, ao invés, de brigarmos mais pelos ensinamentos de Jesus e pelo caminhar em paz com todos, podemos gerar fontes de conflitos que podem levar irmãos de fé a se separarem, ou ainda, infelizmente em alguns casos, podendo levar algumas pessoas deixarem o evangelho de Cristo devido a divergências de opinião.

Algo interessante a ser observado sobre os que apresentam dificuldades em caminhar liderados é que geralmente os seus comportamentos junto aos seus liderados é o de cobrar e requerer que sigam o que eles orientam, comportamento esse que geralmente não conseguem ter com os seus líderes.

Uma liderança bíblica precisa ser considerada, respeitada e ajudada, mas nem sempre é assim e consequentemente, mesmo os que são chamados pelo Senhor para a lida pastoral podem ter dias trabalhosos, justamente por ter no rebanho as “ovelhas” que apresentam comportamentos mais arredias.

Hebreus 13.17 “Sejam obedientes aos seus pastores. Ouçam o conselho deles. Eles estão atentos à condição da vida de vocês e trabalham sob a estrita supervisão de Deus. Contribuam para que a liderança deles seja alegre, não penosa. Por que tornar as coisas mais difíceis?”  (A Mensagem – Bíblia em Linguagem Contemporânea. Editora Vida)

Quando o trabalho do pastor é coerente com a bíblia, esse trabalho não deveria ser com dores, entretanto nem sempre é assim, as pessoas com as suas subjetividades e traços de personalidade, podem em níveis maiores ou menores gerar resistências a liderança, ainda que essa esteja dentro dos padrões bíblicos.

É importante considerar que nossas ações e reações podem estar sendo guiadas pelo Espírito Santo ou por nossas próprias vontades, o desafio é saber identificar quando nossos comportamentos falam mais das nossas frustrações ou da ação de Deus, bem como saber lidar com elas para não gerar prejuízos na coletividade e para si próprios.

A necessidade de alguns em se ter a sua digital nos projetos, ou seja, ser o criador ou o que lidera o ministério ou projeto, enche o coração de vaidade e geralmente essa ambição resulta em menos empenho e obediência quando eles não são o “pai da criança”, não deixa de ser uma forma egoísta de ver e lidar com as questões.

Em Números 12, temos a história de Miriã e Arão que falaram contra Moisés, aparentemente poderiam até ter certa razão, mas o Senhor os repreendeu e os levou a refletir sobre o que estavam fazendo, além de colocar a lepra em Miriã.

Números 12.01-02 “Miriã e Arão começaram a se queixar de Moisés. Falaram mal dele porque ele tinha se casado com uma etíope. Diziam: “Será que o Eterno fala apenas por meio de Moisés? Ele não poderia falar por meio de nós também?” Mas o Eterno ouviu a conversa.”

Quando abordo esse tema, caminhar juntos, não tenho em hipótese alguma, a pretensão de apregoar uma obediência cega, afinal de contas toda liderança é humana e sendo humana todos somos falhos, mas o que trago aqui para a nossa reflexão é que quando a liderança é bíblica e ainda assim, resistimos única e exclusivamente por questões egocêntricas.

Penso que ao fazer parte de uma denominação, preciso “vestir a camisa”, me empenhar para que os propósitos orientados sejam alcançados, infelizmente muitos ainda adotam o comportamento de olharem para a grama do vizinho e valorizar mais as outras “casas” do que a sua própria. Enquanto tivermos esse comportamento de desvalorizar a própria denominação, existirá uma probabilidade maior de não engajamento, não comprometimento e consequentemente um certo nível de resistência e não obediência às lideranças constituídas por Deus.

De modo geral precisamos considerar que ficar reclamando da nossa própria denominação, ou sendo sempre o do contra não nos levará a lugar algum, pelo contrário somente gerará dificuldades. Precisamos, sim, abraçar a causa – pregação do evangelho – e dentro da nossa denominação realizar essa missão com zelo, amor, companheirismo e dedicação.

  

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O que nos leva a não caminhar e a querer caminhar juntos?

Argumentação > 

A história de algumas denominações no Brasil são marcadas por divisões, separações e multiplicações, muitas vezes essas divisões ocorreram meramente por discordância entre liderados e líderes, ou ainda, por sede de poder, sem de fato se ter um motivo de grande discordância bíblica.

Algumas fragmentações denominacionais ocorrem não por grandes diferenças no modo de se fazer ou crer, antes, porém, ocorrem devido à incapacidade de alguns em não terem as suas ideias e opiniões totalmente acolhidas.

O que causa estranheza é que alguns quando iniciam as suas próprias denominações acabam utilizando como referência o Estatuto, o Regimento Interno ou ainda, adotando o modo de Governo Eclesiástico e às vezes até mesmo a liturgia é mantida de modo muito similar a da denominação da qual saíram.

Penso que quando recebemos de Deus uma ordem para iniciar uma denominação, o mais ético, na minha opinião, seria sair da denominação sem levar absolutamente nada e depois abrir a outra denominação, acredito que se Deus tem um plano para um líder fora da sua denominação, Ele o Senhor é poderoso não somente para suprir financeiramente, mas também para reunir um povo segundo o propósito Dele. Entretanto, não penso que utensílios devam ser impedimentos para permanecer de fato na denominação quem de fato valoriza e está disposto a caminhar e construir juntos.

O que nos leva querer caminhar juntos, acredito que o vínculo afetivo e o respeito de uns com os outros são variáveis importantes que contribuem para o fortalecimento da manutenção da unidade denominacional.

Outros pontos que acredito contribuir para o caminhar juntos são, identificação bíblica teológica, concordância quanto aos usos e costumes, tradições e dogmas aceitáveis, modelo de gestão administrativa e modelo de governança eclesiástica, bem como o modelo litúrgico.

Após considerarmos os pontos elencados acima, vamos abordar outros pontos que são, a meu ver, mais importantes e que contribuem para o caminhar juntos, sendo a fé em Cristo, a palavra de Deus, a ação do Espírito Santo, bem como o privilégio de contribuir com o reino de Deus.

O amor a Deus e a fé em Jesus nos leva a ser suporte uns aos outros, a caminhar unidos pela propagação do evangelho, o amor de Cristo e o evangelho devem sempre ser os pilares centrais que nos une nessa caminhada com Deus.

Quando nossas vidas são direcionadas pelo Espírito Santo e permitimos que Ele nos use, quando nossas vontades dão lugar a vontade de Deus, então, passamos a não ter tempo para criar divisões na denominação, quando estamos focados no chamado de Deus, não desperdiçamos tempo com questões periféricas, antes nos mantemos ao que interessa de fato, as questões do reino de Deus.

  

Para se pensar…

Temos o claro entendimento que o papel das denominações é organizar e direcionar a Igreja de Cristo segundo o evangelho? Temos o cuidado de não colocarmos os dogmas e tradições acima da palavra de Deus?

 As divergências dentro das denominações tem mais a ver com divergências bíblicas ou com lutas de egos? Por que alguns não conseguem caminhar juntos debaixo de uma liderança?

 Alguns não conseguem se submeter a uma liderança, entretanto, os mesmos exigem dos que estão sob a sua liderança submissão, comprometimento e engajamento, não seria incoerência cobrar de outros, o que não fazem?

 

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2022 – O Ano da Decisão
uma igreja bíblica e relevante

Pastor Ronildo Queiroz
Serviçal da Igreja de Jesus Cristo

 

Referências

GONDIM, R. É proibido: o que a Bíblia permite e a igreja proíbe. São Paulo: Mundo Cristão, 1998.

LIDÓRIO, R. Sal e Luz: compreendendo, vivendo e praticando a missão. Revisão: Rita Leite. Belo Horizonte: Betânia, 2014.

MANNING, B. O evangelho maltrapilho. Traduzido por Paulo Purim. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

PATRICK, D. O plantador de Igreja. Tradução Daniel Hubert Kroker – 1ª ed. – São Paulo: Vida Nova, 2013.

SEYMOR, W. O Avivamento da Rua Azusa: devocional. Tradução Luís Aron de Macedo. 5ª impressão. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2012.

STOTT. J. A Igreja Autêntica. Tradução: Lucy Hiromi Kono Yamakami. 1 ed. Viçosa, MG. Editora Ultimato; São Paulo: ABU Editora, 2013.