Pastoreio #87

Escolhendo o Reino de Deus

 

O Reino de Deus é rico em amor, justificação, purificação, restauração, posso pensar que no reino de Deus os maltrapilhos reunidos em Jesus encontram uma nova oportunidade, oportunidade ímpar, sem igual, chance de se ter paz entre a criatura e o Criador, mediante a fé em Cristo serem salvos da morte eterna.

Nas denominações/Instituições, ou ainda, em reuniões/assembléias, seja aonde for, que se reúnam pessoas que confessam e creem em Jesus Cristo, ali estará o reino de Deus.

Sobre as expressões, reino dos céus e reino de Deus, Douglas (1995, p.1383), explica que:

“o reino dos céus ou reino de Deus é o tema central da pregação de Jesus, segundo os Evangelhos Sinóticos. Enquanto Mateus, que se dirige aos judeus, na maioria das vezes fala em ‘reino dos céus’, Marcos e Lucas falam sobre ‘reino de Deus’, expressão essa que tem o mesmo sentido daquela, ainda que mais inteligível para os que não eram judeus. O emprego de ‘reino dos céus’, em Mateus, certamente é devido à tendência, no judaísmo, de evitar o uso direto do nome de Deus. Seja como for, nenhuma distinção quanto ao sentido, deve ser suposta entre essas duas expressões (cf., por exemplo, Mt. 5.03 com Lc.6.20).”

Com o objetivo de colocar cada coisa em seu devido lugar, ou seja, o devido entendimento sobre o que é o reino de Deus e o que é a Igreja, Douglas (1995, p.1386), escreve que, “o reino é a totalidade da atividade remidora de Deus, em Cristo, neste mundo; a Igreja é a assembléia daqueles que pertencem a Jesus Cristo.”

A denominação/instituição sem a ação remidora de Deus em Cristo nas pessoas, seria apenas uma religião, ou ainda, mais uma entidade que trataria de algo de interesse de determinado grupo.

Buscando corroborar com a explicação mais adequada sobre o entendimento de reino de Deus, com o objetivo de tentar esclarecer algumas dúvidas, citarei mais uma vez Douglas (1995, p.1386):

“A igreja é a assembléia daqueles que aceitaram o evangelho do reino mediante a fé, que participam da salvação do reino, salvação essa que inclui o perdão de pecados, a adoção por parte de Deus, a presença do Espírito Santo no íntimo, a posse da vida eterna. São também aqueles em cuja vida o reino toma forma visível, a luz do mundo, o sal da terra; aqueles que tomaram sobre si mesmos o jugo do reino, os quais vivem conforme os mandamentos de seu Rei e Dele aprende (Mt. 11.28-30). A Igreja, como órgão do reino, é exortada a confessar a Jesus como o Cristo, à tarefa missionária da pregação do evangelho ao mundo.”

Podemos concluir que o reino de Deus não é fruto ou obra de uma denominação, antes, porém, da ação de Deus (João 3.16), as denominações acolhem as pessoas que compõem o reino de Deus, sendo assim, podemos entender que nosso papel não é outro senão, cooperar com Deus pregando o evangelho e discipulando pessoas seguindo a exemplo de Jesus.

Com intuito de instigar nosso aprendizado e discussão sobre o reino de Deus, de acordo com Pfeiffer, Vos e Rea (2010, p. 1660, 1661), vamos explicitar mais sobre os aspectos do reino:

“Existem dois aspectos do reino: presente e futuro. 1. Presente, a fase invisível presente é apresentada nos Evangelhos no chamado ao arrependimento feito por João Batista e por Cristo (Mt. 3.2; 4.17,23, Lc. 4.43; cf. Mt. 10.7); no ensino de Cristo sobre a santificação como um aspecto da vida cristã, como, por exemplo, no Sermão da Montanha (Mt. 5-7); e na revelação dos mistérios do reino, particularmente do início, crescimento e desenvolvimento ocultos do reino durante a Era do Evangelho até a sua manifestação aberto no Milênio (Mt. 13.19,24,31,33,44,45,47,52; Mc. 4.30). Passagens nas epístolas revelam que o governo de Deus na terra hoje é eficaz somente entre aqueles que foram libertos das trevas e transferidos para o reino do seu Filho (Cl. 1.13). O reino existe no presente onde os cristãos estão vivendo em sujeição à vontade de Deus, onde o seu poder está produzindo vidas transformadas (1 Co.4.20). O reino de Deus não é uma questão de conseguir o que se quer comer e beber, mas uma questão de conduta íntegra, de se ter paz e harmonia com outros crentes, e alegria inspirada pelo Espírito Santo (Rm 14.17). Paulo estava aparentemente se opondo às ideias materialistas que os judeus de seus dias possuíam com respeito ao esperado reino messiânico.”

 2. Futuro. O aspecto visível futuro do reino, quando o Messias reinará sobre a terra a partir de Jerusalém, é predito em muitas passagens do AT (Dt. 30.1-10; Sl. 2; 72;89.19-29; 110; Is. 11.1-16; 65.17 – 66.24; Jr. 32.36-44; 33.4-18; Jl.3.17-21; Zc. 14.9-17). Os judeus estavam esperando este reino visível. As parábolas do reino (Mt.13) foram dadas para revelar o mistério de que o reino deve primeiro desenvolver-se espiritualmente e discretamente na Era do Evangelho. Mas isto não era suficiente! Em sua última visita a Jerusalém, Cristo proferiu a parábola das minas para ensinar que o futuro reino terreno ainda estava distante, pois “cuidavam que logo se havia de manifestar o Reino de Deus (Lc.19.11).”  A última pergunta feita pelos discípulos do Senhor dizia respeito ao aspecto futuro do reino: “Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino de Israel?” (At. 1.6). Cristo não lhes disse que não haveria um reino terreno ou a restauração do reino a Israel. Uma vez que ele não disse nada antes e nem nesta última reunião que mudasse seu conceito e convicção no que diz respeito ao reino milenial do Filho de Davi sobre o seu povo, evidentemente eles estavam corretos sobre a natureza do reino, mesmo que ainda estivessem confusos sobre quando ele viria. Chegar a qualquer outra conclusão é afirmar que eles estavam errados, que sabemos mais que eles, e que Cristo partiu deixando-os intencionalmente com uma ideia errada. Os pré-milenialistas não podem aceitar tais conclusões.”

Considerando o que já abordamos até aqui nessa introdução, precisamos considerar que o reino de Deus não tem na terra um dono, não é privilégio dessa ou daquela denominação ou desse ou daquele líder religioso, não podemos achar que somos proprietários desse reino, antes, porém, somos mordomos, cujo dono que é Deus nos confiou uma missão, dando-nos os dons e capacidades pelo Espírito Santo, necessários para realizar a missão, evangelizar as pessoas, sabendo, porém, que o garantidor do êxito na missão também depende o Eterno.

Escolher pelo reino de Deus é, através da fé em Jesus poder ser não somente dependente do Senhor, mas também ser, segundo a vontade do Criador, agente de multiplicação pela ação do Espírito Santo e de consolidação.

Para fazer parte do reino de Deus não importa a sua condição, sócio, econômica, financeira, basta apenas confessar o Filho de Deus como único Senhor e se dispor a viver o evangelho de Cristo.

Nossas forças podem ser poucas, nossas virtudes débeis, nossa caminhar muitas vezes inconstantes, todavia, pela fé em Jesus nenhuma pessoa que faz parte do reino de Deus é esquecido, o Senhor nos justifica, purifica e põe de pés a todos os que estiverem enfraquecidos, basta crer e confiar no poder do Salvador Jesus Cristo.

Recorte >>> O que podemos fazer em favor do reino de Deus?

Acredito que, se temos a consciência de fato sobre o que é o reino de Deus, muitas das nossas ações mais egoístas podem ser desconstruídas e passarmos a ter um olhar mais altero, ou seja, nos sentir responsáveis pelo outro, sem, entretanto, querer dominar ou impor algo sobre o outro.

Penso que o reino de Deus, não pode ser misturado com os reinos dos homens, aja visto que a palavra do Eterno deixa claro que os princípios sã opostos (Lucas 22.26), nossas expectativas humanas não movem o reino de Deus, antes, porém, a vontade soberana do Criador é quem estabelece e realiza todas as coisas, segundo os seus propósitos e não os nossos.

É importante considerarmos que os pilares sólidos desse reino não estão em outro lugar senão na Palavra de Deus, sendo assim, fica óbvio que se queremos contribuir com o reino de Deus, precisamos saber quais princípios bíblicos foram ensinados e deixados para serem obedecidos.

Proponho aqui um ponto de partida, que no reino o único Rei seja o Senhor, não tem como militarmos em prol do reino de Deus buscando honra para homens, somente o Eterno deve ser louvado e honrado. Toda e qualquer ação dos homens tentando tornar o reino de Deus em seu reino particular será frustrada, o Senhor em sua soberania sabe o que faz, quando e o porquê faz, logo, perceberemos que não existe mérito algum nos homens, tampouco glória alguma para ser dividida, antes, porém, toda a honra e glória pertencem a Deus.

O propósito de Deus em estabelecer seu reino foi o de reunir e resgatar a sua criação, de trazer o equilíbrio que se havia perdido no pecado adâmico, os seres humanos não tinham como se achegarem a Deus, entretanto, através de Jesus o Pai possibilita que a sua criação caída, possa novamente se levantar e ter acesso ao seu Criador.

O reino de Deus não é apenas para ser anunciado, antes, porém, para ser vivido, segundo Lidório (2014, p.89), “creio que nós não fomos chamados simplesmente a fim de converter nações, mas para viver a fé que pregamos.”

Penso que para contribuir com o reino de Deus, precisamos respirar e viver esse reino, saber como ocorre a sua dinâmica e quais as leis morais, sociais e espirituais que precisamos considerar, segundo a própria palavra de Deus.

Proponho que voltemos o nosso olhar para as ações de Jesus, acredito que um bom começo seja replicar o que o Mestre fez, assim certamente poderemos diminuir de modo considerável a possibilidade de erros. Segundo Lidório (2014, p.91), “trocamos a simplicidade do evangelho e a obediência ao Senhor pela complexidade da insaciável busca por bens, títulos, posses e reconhecimento público, em um círculo vicioso. Esquecemo-nos de que a vida que satisfaz a Deus deve ser vivida com simplicidade como foi a de Jesus, que gastava tempo com as pessoas, discipulando quem estava próximo, tirando tempo para orar e falando incansavelmente do Pai.”

O trabalho no reino de Deus vai na contra mão da frenesi do mundo, os objetivos não são angariar o ouro, a prata ou fama, quem é do reino de Deus sabe que nele se busca o que o ladrão não pode roubar, tampouco a traça ou ferrugem podem consumir, são as delicias espirituais, que os reinos desse mundo divorciado de Deus não cobiçam, e não cobiçam porque estão cegos, por não conseguirem ter fé em Jesus e confiar que Deus não somente sabe o que é melhor, mas tem o que é infinitamente melhor.

Se entendermos a essência do reino em Jesus, que nós seres humanos, antes distantes de Deus, mas agora pela fé em Jesus Cristo, religados ao Criador, podemos, então, sem medo ou dúvida imitar o Salvador. Contribuímos com reino pregando o evangelho, amando a todos sem distinção, sendo misericordiosos, estendendo as mãos aos necessitados, assim como o bom samaritano (Lucas 10.30-37).

A vida prática no reino de Deus não comporta a mera religiosidade, pois na religiosidade o objetivo maior é parecer ser, entretanto, filhos de Deus e membros do seu reino não parecem, eles são em seus atos a manifestação viva do reino de Deus.

Se fizermos a missão do reino sem a motivação correta, então, seremos, apenas mais um religioso, segundo Lidório (2014, p. 121), “mas sem amar continuaremos passando ao largo perante o caído ao longo do caminho, que sofre, e virando o rosto aos que ainda não ouviram de Jesus. Seremos, assim, cristãos de gabinete escrevendo sobre o que não experimentamos, ou cristãos pragmáticos fazendo o que é certo pelos motivos errados, sem amor.”

Vamos elencar alguns pontos para nos ajudar e desenvolver uma discussão mais eficaz, considerando algumas ações que podemos fazer pelo reino de Deus:

  1. Antes de fazermos algo, buscarmos a Deus em oração.
  2. Ser gratos pelo grande favor não merecido, a graça de Deus encarnada em Jesus.
  3. Nos sentirmos mais responsáveis pelo próximo sem tirar o direito dele.
  4. Ensinar o evangelho de Cristo e não os nossos dogmas ou tradições.
  5. Ter uma vida cúltica diária e não somente nos momentos de culto.
  6. Praticar a misericórdia e o amor com quem quer que seja, assim como Deus fez e faz conosco.
  7. Ter uma vida perdoadora, ou seja, não negar o perdão a quem quer que seja.
  8. Não querer estar em evidência, importa que Cristo apareça/cresça.
  9. Não usar do reino para fazer fortuna, mantendo-se fiel a missão dada por Jesus, ide e fazei discípulos.
  10. Não querer dominar as pessoas, antes, se dispor a servi-las.
  11. Como filhos(as) de Deus, precisamos ser pacificadores.

Precisa estar bem claro para nós que o reino de Deus não pode ser reduzido aos nossos interesses, mas sempre deve prevalecer a vontade soberana de Deus.

Ao longo dos tempos, observamos a abertura de muitas denominações, cada uma com características e modos de funcionamento diferente umas das outras, mas não temos vários “reinos” de Deus, temos um reino de Deus, cujas pessoas em Jesus fazem parte desse reino, com isso reforço que temos um só Rei e uma só palavra que rege todo o reino de Deus.

As disputas entre tamanhos de templos, quantidade de congregações abertas, quantidade de membresia, poder político e financeiro das denominações, em nada tem a ver com o reino de Deus.

  

Ponto de contato >>>

Os privilégios para aqueles que fazem parte do reino de Deus.

Argumentação > 

Pense bem, como seria a nossa vida sem a ação maravilhosa do Deus Criador, que não somente, nos cria e mesmo quando a sua criação peca contra Ele, o próprio Senhor traça um plano para novamente nos colocar no caminho, para vivenciarmos as suas bençãos e amor, mesmo sem ser merecedores.

Não podemos negar que é uma dádiva pertencer a um reino, estar debaixo da proteção do Senhor, ser dirigidos por Ele pelo caminho certo, ser criaturas, mas ainda assim, poder ter comunhão com o Criador de todas as coisas, somente esses pontos aqui citados já são excelentes demais!

Ser cidadão desse reino pela fé em Jesus Cristo, nos dá o direito ao perdão, a restauração, a começar novamente todas as vezes que formos até Jesus, em arrependimento e fé.

Aos cidadãos desse reino a disputa ou preocupação em ser melhor ou maior que o próximo perde o sentido, deixa de ser algo que faça sentido, pois a meta é levar os pés uns dos outros, em amor e em submissão aos ensinamentos do Mestre Jesus.

Através da fé em Jesus, podemos usufruir dessa tão grande benção que é fazer parte da família de Deus, poder estar escondido no esconderijo do Altíssimo.

Penso como é bom descansar em Deus, fazer parte do seu reino, estar em expectativa que em breve o Rei voltará e poderemos nos assentar com Ele face a face, promessas como estas são verdadeiros privilégios para os que estão em Cristo.

  

Para se pensar…

É importante perguntar a nós mesmos o que é o reino de Deus, qual o nosso entendimento e quais ações fazemos pensando em contribuir como esse reino?

 As motivações e objetivos falam mais dos planos de Deus ou dos nossos interesses particulares, fazemos segundo a vontade de Deus ou segundo a nossa vontade?

 Estamos dispostos a servir o próximo seja quem ele for, estamos prontos para não ter nossos nomes mencionados por fazermos algum bem, estamos dispostos a amar mesmo os que não queremos amar, somos mais dados a oferecer sacrifícios ou a sermos mais misericordiosos?

 

______________________________________

2022 – O Ano da Decisão
uma igreja bíblica e relevante

Pastor Ronildo Queiroz
Serviçal da Igreja de Jesus Cristo

 

Referências

DOUGLAS, J.D. O novo dicionário da Bíblia. Organizador J.D. Douglas; editores assistentes FD.F. Bruce…et.al. editor em português R.P. Shedd; tradução João Bentes – 2ª ed. – São Paulo: Vida Nova, 1995.

LIDÓRIO, R. Sal e Luz: compreendendo, vivendo e praticando a missão. Revisão: Rita Leite. Belo Horizonte: Betânia, 2014.

MANNING, B. O evangelho maltrapilho. Traduzido por Paulo Purim. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

PATRICK, D. O plantador de Igreja. Tradução Daniel Hubert Kroker – 1ª ed. – São Paulo: Vida Nova, 2013.

PFEIFFER, C.F., VOS, H.F., REA, J.  Dicionário Bíblico Wycliffe, tradução Degmar Ribas Junior. – 7ª ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2010

SEYMOR, W. O Avivamento da Rua Azusa: devocional. Tradução Luís Aron de Macedo. 5ª impressão. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2012.

STOTT. J. A Igreja Autêntica. Tradução: Lucy Hiromi Kono Yamakami. 1 ed. Viçosa, MG. Editora Ultimato; São Paulo: ABU Editora, 2013.