Pastoreio #90

Conquistando a Resiliência.

 

Nesse pastoreio vamos abordar como podemos conquistar um comportamento mais resiliente, antes, porém, vamos definir o que significa ser resiliente.

Segundo Cardoso e Martins (2013. p.15), “o termo resiliência provém da Física e Engenharia, quando, em 1807, um dos precursores no assunto, o cientista inglês Thomas Young, introduziu pela primeira vez a noção de módulo e elasticidade, buscando a relação entre a força que é aplicada em um corpo em deformação que essa força produz (Timoshenko, 1983). Grunspun (2006) afirma ser uma força de resistência e recuperação, dando o exemplo de um corpo submetido a forças de distensão até seu limite elástico máximo e a capacidade deste de retornar a seu estado original, sem deformações em sua estrutura depois que as forças passam.”

Penso que pessoas com comportamentos resilientes, são aquelas que mesmo após sofrerem danos, perdas, lutas e humilhações, conseguem se recompor, elas não são isentas das adversidades, entretanto não se deixam paralisar, seguindo em sua caminhada, no contexto cristão, sem deixar de acreditar que Deus jamais as abandona, seja nos seus sucessos ou fracassos.

Para Cardoso e Martins (2013), as pessoas com comportamentos resilientes são aqueles que conseguem lidar com as pressões externas (situações, pessoas e ambientes) e internas (suas próprias dores, fragilizações, medos e inseguranças), de uma forma adequada, não agressiva com as outras pessoas, tomando decisões menos impulsivas, de modo geral, conseguindo manter uma estruturação psicológica e física tal, que não prejudique a si mesmas.

No meio secular, as pessoas buscam ser resilientes adotando estratégias e tomando decisões, geralmente amparadas em seus próprios recursos, suas capacidades e forma de ver o mundo.

Na vida cristão, entretanto, sabemos que, o comportamento de resiliência é possível mediante a ajuda de Deus, por meio da fé, (João 16.33) “no mundo teremos aflições, mas em Jesus que venceu todas a intempéries do mundo, receberemos ânimo.” Como poderíamos vencer os desafios quando, alguns ou muitos deles, são gerados pelo diabo, ou seja, sem Cristo dificilmente venceríamos ou depois dos ataques e sofrimentos provavelmente não nos levantaríamos e seguiríamos em frente.

Na palavra de Deus vamos encontrar relatos em que os discípulos de Jesus foram perseguidos, presos, açoitados, mas todas essas dores não os impediram de seguirem crendo em Jesus, continuaram pregando o evangelho.

Os açoites e a prisão de Paulo e Silas (Atos 16.22-26), não tiraram deles a fé e o ânimo em servir a Jesus, mesmo em cárcere eles cantaram louvores e oraram a Deus, independentemente das suas dores e dúvidas.

Ao que parece, na escola de Deus a frustração é ferramenta utilizada pelo Criador para construir e consolidar a resiliência em seu povo, no Egito o povo hebreu viu sinais e maravilhas, pragas abatendo os egípcios, porém sem nenhum dano ao povo de Deus, entretanto, diante do mar vermelho o povo murmurou (Êxodo 14.12), dizendo que teria sido melhor se tivessem permanecido no Egito como escravos. Os hebreus haviam recebido grande livramento do Senhor, mas diante de uma impossibilidade (mar vermelho), se mostraram dispostos a desistirem da sua liberdade.

O povo de Senhor não ter provisão, capacidades ou habilidades não são impeditivos para Deus, Ele age independentemente das forças do seu povo, as nossas dores e lutas são percebidas pelo Eterno, Ele sabe das nossas limitações, mas precisamos descansar Nele, a construção da nossa resiliência está em confiar no Senhor.

Segundo Lidório (2014, p.135,136), “se a igreja passa a ter, como sentido de vida, a prosperidade material e a abstinência de tudo que possa fazê-la sofrer, a missão não será realizada. A Igreja que cumpre a missão será perseguida, odiada e passará por provações. O sofrimento também precisa ser estudado à luz da vontade de Deus. E andar na vontade de Deus não isenta o crente do sofrimento. A promessa dada por Jesus para a igreja que cumpre a missão não é ausência de sofrimento, e sim presença do Senhor conosco ao longo de toda a caminhada.”

Quantas vezes lemos ao longo da história sobre a Igreja de Cristo sendo perseguida por reis, governos, religiosos, sistemas e tantas outras barreiras que se ergueram, mas que não impediram o crescimento e o avanço da Igreja, é importante termos ciência que a resiliência da Igreja se dá única e exclusivamente por ela estar edificada em Jesus (Mateus 16.18).

Sendo cristãos, penso que podemos conquistar a resiliência, confiando no Senhor e permanecendo em sua dependência, mesmo quando erramos e sofremos danos, ainda assim, precisamos seguir caminhando com fé, lidando com o dia a dia, até que aconteça o que Deus prometeu.

Nosso querer e fazer, sem a permissão e ação de Deus não fluirá, não daria certo, sabemos que Deus é soberano e onisciente, ou seja, nada passará sem que Deus não saiba, logo como poderemos ter sucesso em nossas empreitadas se não confiarmos o nosso hoje e amanhã ao Senhor.

 

 

  Recorte >>>

Ser resiliente não é perder a nossa humanidade.

Um ponto que precisamos considerar é que ser resiliente não significa que não podemos sentir as dores, demonstrar vulnerabilidade, ter dúvidas, afinal de contas somos humanos e se até Deus sabe e considera nossas fragilidades sendo misericordioso e amoroso conosco, nós seres humanos não podemos agir de uma forma tão punitiva consigo mesmos sem considerar o seguir em frente, mesmo após as dores, pois sempre será possível seguir com a ajuda de Deus.

Quantas vezes alguns cristãos se mostram tão ousados ao iniciarem a sua jornada com Deus, mas com o passar do tempo ao acumularem algumas derrotas e frustrações acabam por desistir da caminhada, muito mais pelos seus autojulgamentos do que pela vontade de Deus.

Certa vez eu estava orando na sede nacional e em minhas orações eu comecei a dar “conselhos para Deus”, como se isso fosse possível, que Ele poderia usar outra pessoa para o que Ele me chamou, pois afinal de contas eu nunca me escolheria, digo isso ao Senhor desde que fui alistado para a sua obra, entretanto Ele me convocou. Enquanto eu orava tive uma visão, como se eu tivesse saído do meu corpo e me via ajoelhado, mas eu estava usando um colete de ouro, o Senhor me perguntou o que me chamava mais atenção, eu respondi o colete de ouro, e Ele me disse assim, exatamente isso, não se trata de você, nunca foi você, mas sou Eu em você, sou Eu quem atrai as pessoas e que te usa para pregar a minha palavra, acredito que experiências como esse nos ajudam a colocar cada coisa no seu devido lugar, Deus é o oleiro e nós apenas os vasos.

É muito complexo quando nós seres humanos queremos usar a nossa régua para medir aos outros e até a nós mesmos, quando nós mesmos nos reprovamos ou dizemos que não servimos mais e que Deus não nos ama e não nos quer mais. Acredito que uma mente autojulgadora, divorciada do evangelho de Jesus, terá sérias dificuldades para ter comportamentos mais resilientes.

Precisamos considerar que o diabo nosso adversário tentará de tudo para nos afastar de Deus, muitas vezes lançando dúvidas em nossa mente, a partir dos nossos erros, pois sem percebermos acabamos por acreditar que de fato quando temos êxito tem a ver conosco quando, na verdade, sempre em todo tempo é o Senhor na sua soberania que não somente sabe tudo, mas também opera em tudo, nos levando a seguirmos firmes rumo ao propósito estabelecido por Ele.

Ter ciência das nossas fraquezas, dúvidas e medos, penso ser muito útil para nos fazer ter uma relação mais verdadeira com Deus, em que essa relação está amparada do poder, amor e favor do Criador, assim será possível seguirmos em frente mesmo quando sofrermos derrotas. Podemos dizer que faremos a obra de Deus com maior leveza, o sacudir da poeira e seguir em frente talvez ocorra de forma mais natural, mas se ficarmos presos a vergonha, humilhação, perda ou prejuízos talvez teremos uma mente muito mais condenadora do que esperançosa.

Quando Jesus recebeu a notícia sobre o estado de saúde de seu amigo Lázaro, ele demorou ainda alguns dias para ir até a aldeia, quando chegou recebeu a notícia da morte de Lázaro pela sua irmã Maria, vendo Jesus que ela e os judeus choravam, (João 11.33-35), Jesus chorou!

O fato de Jesus chorar não impediu que Ele seguisse em sua missão, sabemos que o Mestre ressuscitou a Lázaro, mas ainda que não o quisesse fazer, Ele continuaria rumo a cruz para prover salvação a todos os que Nele depositam a sua fé e confiança.

 

  Ponto de contato >>>

Em Cristo a nossa resiliência é favorecida.

Argumentação > 

Se considerarmos que para termos comportamentos resilientes precisamos ser mais otimistas, esperançosos, ainda que de fato não tenhamos atualmente provas concretas sobre o que esperamos, então podemos afirmar que a fé em Deus (Hebreus 11), é potencializadora da nossa resiliência.

Acredito que a fé em Deus nos coloca em vantagem, em relação àqueles que não acreditam que Deus exista, no sentido de sermos mais otimistas, em querer seguir, mesmo após as dores e perdas, pois movidos por uma expectativa na ação de Deus, podemos nos manter firmes mesmo após as deformações que a vida nos causa. 

Quando no Antigo Testamento o profeta Isaías 53.04 escreve que “verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.”, reflito e acredito que em Cristo a nossa resiliência recebe um espetacular reforço, que não depende de nós propriamente, a não ser ter a fé em Jesus, Ele não nos abandona pelo caminho, tampouco deixa de nos ouvir e ajudar em nossas situações.

No barco os discípulos temeram a tempestade, mas tinham a Jesus (Marcos 4.39) que ordenou que o mar se acalmasse e o vento parasse, com certeza essas experiências que eles tinham com Jesus os ajudavam a querer seguir em frente, mesmo diante de grandes adversidades. Podemos até parafrasear que quem tem Jesus no barco não para, não teme.  

Ter Cristo em nossas vidas nos leva a romper comportamentos pragmáticos, a ousar mais, a encarar as frustrações da vida como aprendizados que não nos paralisa, antes, porém, nos impulsiona seguir em frente (João 14.12), imitando a Jesus.

Estamos acostumados a dividir o mundo entre pessoas boas e pessoas más, e às vezes não queremos investir tempo e esforços para levar as boas novas para os que acreditamos não ter mais jeito, mas quando de fato entendemos o que significa graça de Deus, por alcançar as nossas vidas, que não merecíamos nada do Criador, mas Ele mesmo assim nos oferece gratuitamente a salvação e a filiação divina, esse amor do Pai tem o poder de nos constranger a querer seguir anunciando o evangelho sem distinção alguma, sem preconceito algum, sendo mais resilientes quanto ao que fazemos por amor a Deus.

Quando passamos por algo muito decepcionante, quando sofremos por não conseguirmos conquistar ou alcançar, às vezes podemos ser tomados por pensamentos e sentimentos que indicam desânimo, medo, nos retraindo e deixando de viver o que Deus tem para as nossas vidas, então, precisamos nesse momento nos lembrar que a nossa força para seguir em frente não vem de teorias, técnicas humanas ou de frases de efeito, antes, o nosso socorro vem do Senhor (Salmos 121.02).

Para termos comportamentos mais resilientes, precisamos ter fé e confiar em Jesus, somente Ele pode nos ajudar a manter a nossa caminhada, mesmo diante de grandes provações.

Quando o apóstolo Paulo estava preso ele escreve aos Filipenses 4.13 “posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.”, ou seja, mesmo na aflição Paulo estava contente, pois tudo que ele mais precisava já estava com ele, Cristo Jesus!

Mesmo nas dores e decepções da vida, precisamos nos lembrar que já temos conosco tudo o que precisamos, Jesus o Filho de Deus que não somente morreu por nós, mas também nos justifica, purifica e santifica mediante a nossa fé e não as nossas obras, pois pelas nossas obras, seriamos dificilmente salvos.

Quando falamos em ter comportamentos resilientes, não posso deixar de citar alguns Mártires que mesmo sob risco de morte, não retrocederam, seguiram sustentando a fé em Jesus, mesmo que para alguns o custo foi perder a própria vida.

 Segue aqui alguns nomes que, segundo Fox (2011), por amor a Cristo seguiram até o final das suas vidas. 

  1. Estevão – arrastaram-no para fora da cidade e o apedrejaram até a morte.
  2. Tiago (filho de Zebedeu) – conduzido ao lugar do seu martírio, seu acusador foi levado ao arrependimento e, caindo-lhe aos pés, pediu perdão e confessou-se cristão. Juntos o acusador e Tiago foram então decapitados (44 d.C.).
  3. Felipe (nascido em Betsaida, Galiléia) foi açoitado, lançado no cárcere, e depois crucificado em 54 d.C.
  4. Mateus (o cobrador de impostos) – assassinado com uma alabarda (arma antiga: haste de madeira rematada em ferro largo e pontiagudo, atravessado por outro em forma de meia lua), na cidade de Nadaba, no ano 60 d.C.
  5. Tiago (supõem-se que se trata do irmão de Jesus) – aos 99 anos, foi espancado e apedrejado pelos judeus que, finalmente, abriram-lhe o crânio com um garrote.
  6. Matias – sofreu apedrejamento em Jerusalém e em seguida foi decapitado.
  7. André (irmão de Pedro) – foi preso e crucificado, as extremidades de sua cruz foram fixadas transversalmente no solo.
  8. Marcos (filho de judeus, da tribo de Levi) – foi arrastado e despedaçado pela população de Alexandria, na grande solenidade do ídolo Serapis.
  9. Pedro (apóstolo) – crucificado em Roma de cabeça para baixo a seu próprio pedido por se julgar indigno de ser crucificado da mesma maneira que o seu próprio Senhor.
  10. Paulo (apóstolo) – os soldados o levaram ao lugar das execuções, onde, depois de haver orado, ofereceu o pescoço à espada, sendo então decapitado.
  11. Judas (chamado Tadeu) – foi crucificado em Edesa, em 72 d.C.
  12. Bartolomeu – foi cruelmente açoitado e crucificado pelos conturbados idólatras.
  13. Tomé (chamado Dídimo) – ao provocar a ira dos sacerdotes pagãos, morreu atravessado com uma lança.
  14. Lucas – supõe-se que tenha sido pendurado em uma oliveira pelos idólatras sacerdotes da Grécia.
  15. Simão (de sobrenome Zelote) – foi crucificado em 74 d.C.
  16. João (o discípulo amado) – foi o único a ter morte natural.
  17. Barnabé – supõem-se que a sua morte tenha ocorrido por volta do ano 73 d.C.

Por amor a Cristo, esses dentre outros homens e mulheres, não se importaram com as suas vidas, pois tenham a fé que o Redentor que é Jesus Cristo vive e que certamente os receberiam e galardoariam. 

  

Para se pensar…

Será que para alguns ser resiliente não é muito mais uma questão de orgulho próprio, talvez essa forma de pensar tem levado pessoas a escolherem o caminho mais fácil quando as coisas não saem com esperavam, deixando de crer que Jesus ainda os ama e que tem propósitos em suas vidas?

 Podemos considerar que ter comportamentos resilientes indicam o nível de fé que temos em Jesus?

 Ser resilientes significa ter êxito em tudo? Ter comportamentos resilientes nos ajudam ou atrapalham a lidar com as frustrações da vida?

 

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2023 – O Ano da Conquista
uma igreja bíblica e relevante

Pastor Ronildo Queiroz
Serviçal da Igreja de Jesus Cristo

 

Referências

CARDOSO, T. MARTINS, M.C.F. Escala dos Pilares da Resiliência (EPR). 1 ed. – São Paulo: Vetor, 2013.

FOX, J. O livro dos Mártires. São Paulo, Editora CPAD, 2011.

LIDÓRIO, R. Sal e Luz: compreendendo, vivendo e praticando a missão. Revisão: Rita Leite. Belo Horizonte: Betânia, 2014.